sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Cerca dos Mouros - Canaveses


A Cerca dos Mouros, como é popularmente conhecida, é uma antiga fortificação situada na freguesia de Canaveses. Apesar do nome, esta estrutura não pertenceu aos mouros salvo, barberes, sendo na verdade, um castro construído em épocas anteriores.

Trata-se de um castro, de pequenas dimensões, localiza-se na transição entre o microclima da Terra Fria e da Terra Quente. A ocidente, o território é marcado pelos xistos e caracteriza-se pela maior pluviosidade e temperaturas mais baixas, típicas da Terra Fria. A oriente, o granito predomina, aproximando o clima da Terra Quente, com verões mais quentes, menor pluviosidade e invernos rigorosos (Pereira & Machado, 2020).

A fortificação combina muros de quartzo com muralhas naturais. De acordo com o mapa de Sanchez (2008), nas proximidades encontram-se outros locais de interesse arqueológico, como a mamoa do castelo e dos Burralheiros (monumentos megalíticos funerários), castro de Palheiros e cerca de 230 outros sítios arqueológicos que integram as estações da pré e proto-história, incluindo povoados, arte rupestre e abrigos.

A construção da designada Cerca dos Mouros remonta possivelmente à Idade do Ferro, que decorreu mais de 1000 anos antes de Cristo. Embora exista a possibilidade de ter sido reutilizada por outros povos, como os romanos, não há estudos arqueológicos que confirmem essa hipótese. Certo é que as paredes hoje em ruínas foram erguidas há muito tempo.

Vista aérea cerca dos mouros, através de software. créditos: Ricardo Ramos 2025


 No interior do castro, foram encontrados vestígios de cerâmica, possivelmente datados da Idade do Ferro ou do período de romanização, o que evidencia uma ocupação prolongada e significativa.

A localização da fortificação, no topo de um monte na fronteira entre as aldeias de Canaveses e Vale de Égua, oferecia uma defesa natural e um controlo tático sobre os campos envolventes. As formações rochosas e grandes calhaus funcionavam como muralha natural, reduzindo o esforço necessário para a construção. Perto da fortificação corre uma ribeira a norte, mas de grande declive desde a linha de água até ao castro, presumo que épocas mais remotas, possivel ter existido um estradão. 
Pormenor possível, através de software. Ricardo Ramos 2024



As habitações do castro são circulares, com diâmetros entre 5 a 8 metros, construídas em pedra.
Atualmente, o local encontra-se abandonado. Muitas das pedras da muralha foram levadas pelos habitantes das aldeias próximas para outros usos, o que dificultou a preservação da estrutura. Ainda assim, é possível perceber como a muralha protegia as pequenas habitações. Estima-se que a muralha, particularmente na parte oeste, teria uma altura considerável antes da pilhagem das pedras.



Reconstituição infiel do periodo Romano, através de software, Ricardo Ramos 2024 


Infelizmente, nunca foi realizado um estudo arqueológico no local. Existem relatos de habitantes locais encontraram artefactos antigos. Após o incêndio de 2012, a queima da vegetação revelou o sítio a detectoristas que pilharam o local. Moedas de baixo valor, algumas em mau estado, foram encontradas, incluindo exemplares com a imagem da loba capitolina com Rómulo e Remo.

O acesso à Cerca dos Mouros faz-se pela aldeia de Canaveses ou pela estrada 314, perto de Vale de Égua. Por Canaveses um estradão de terra batida leva até ao sopé do castro. A carta arqueológica do concelho de Valpaços não faz referência a este local. Após o incêndio, houve intervenções humanas, como a plantação de castanheiros e o desenvolvimento da apicultura, evidenciando a atividade agrícola crescente.

O local destaca-se pelas suas construções circulares e pela paisagem envolvente.  Apesar da sua importância histórica, a Cerca dos Mouros permanece sem a devida atenção científica e arqueológica, salvo este modesto artigo, que procura dar-lhe alguma visibilidade.


Ruínas do que resta da muralha da "Cerca dos Mouros" dá para ter ideia da grossura da muralha.


Paisagem Envolvente; vista do cimo da "Cerca dos Mouros"
No percurso para a Cerca dos Mouros somos acompanhados pelo Rio Lila que corre em direcção á aldeia, este proveniente do vale de Revides perto da aldeia do Castelo
Riacho




Muralha Natural









Carta arqueológica

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