terça-feira, 30 de junho de 2015

Canaveses - O registo fotográfico de um paraíso


Poderão ver estas e outras fotos no facebook, procurem pelo grupo Canaveses City!  E partilhem com os vossos amigos para dar a conhecer este cantinho de Portugal.

Post em atualização...

Para ver e conhecer mais do meu trabalho: 500px.com/RicardoRamos5








Aldeia de Émeres.




quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O que aconteceu ao lobo da região?


È contado pelo mais velhos que outrora já teriam existido lobos na região de Canaveses. Eu por outro lado, em 25 anos, nunca me lembro de ver algum. Mas lembro-me perfeitamente de contarem, que era muitas vezes avistado nas zonas mais altas, nomeadamente nas serras, mas também que por vezes faziam "raids" á aldeia de uma ou outra vez.
Tanto é que antigamente era usual os pastores andarem sempre com mais de dois cães num rebanho de gado, fosse de cabras ou ovelhas.
Os cães estes eram "equipados" com coleiras de metal, que continham uma espécies de alfinetes, para caso o lobo atacasse o pescoço como era usual, este desistir. Os cães de gado de grande porte, serviam como proteção, até porque era no cair da noite que o lobo costumava atacar.




Detestado por uns e admirado por outros, o lobo sempre foi algo o  ódio ancestral dos pastores que não lhes perdoam os prejuízos dos seus ataques. Além dos pastores o Lobo sempre foi visto por maus olhos, pela  Igreja Católica, a qual utilizava o lobo como símbolo satânico, animal que punha em causa "o rebanho de Deus", ou seja, a Humanidade Católica.
Em Espanha por exemplo o governo dava recompensas a pessoas que abatessem o lobo, durante a década de 70, pois achava-se que um pais com lobos, era um pais de terceiro mundo, e a Espanha queria seguir os pessoas de países civilizados, que erradicaram o lobo, como é o caso da frança e Gra bretanha.

A realidade é bem diferente, o lobo é um magnífico animal, que faz parte de uma Natureza harmoniosa...

A diminuição e extinção das populações de ungulados silvestres (veado, corço, coelho, lebre), presas
naturais do lobo, fez com que este se tornasse mais dependente do consumo de animais domésticos para
sobreviver, sendo este o principal motivo do ódio do Homem para com o lobo, que o persegue ilegalmente
através do tiro, laços e veneno. Outra ameaça séria que o lobo enfrenta é a fragmentação da população devido
à proliferação de barreiras que dificultam a livre circulação de lobos (como barragens ou redes viárias de
grande fluxo de tráfego).

As taxas de mortalidade nos animais domésticos devido à predação do lobo são bastante inferiores às
verificadas devido a doenças como a Tuberculose e a Brucelose. Desta forma o impacto da predação do lobo encontra-se longe de ser a causa de maior
mortalidade nos rebanhos e, permite supor que a maioria dos animais domésticos que supostamente se consideram predados ou consumidos pelo lobo, poderão na realidade encontrar-se já fortemente debilitados ou mesmo moribundos, devido a doenças ou outras causas de morte. Assim, o lobo poderá comportar-se mais como um necrófago do que como um predador.

O Homem, ao longo dos tempos tem vindo a modificar o mundo à sua volta e tal traz consequências maioritariamente nefastas para o meio natural. Com a agricultura e a pastorícia reduziu as áreas de bosques onde o lobo costumava habitar, com a caça reduziu igualmente as suas presas -  o lobo ibérico - Canis lupus signatus -  está praticamente extinto na nossa região.


Apesar de em Trás os montes ainda existirem grande parte das alcateias existentes em Portugal, mas isso deve-se ao esforço de ONG's, como por exemplo o Grupo Lobo, que se dedicam á preservação desta espécie.



O lobo na nossa região



Já na na região de Canaveses o Lobo, nunca foi um animal muito abundante comparado com outras partes de Trás os Montes. Devido á falta de habitat favorável ao mesmo. Já como se disse anteriormente, eles quando se deslocavam á aldeia para atacar animais domésticos para sobreviver, isso significa que o alimento já seria escasso.

Os campos agrícolas, deixaram de se cultivar, existindo assim uma esperança para o lobo. O que falhou?

A caça por parte das populações que sempre o viram como algo indesejado, criando armadilhas com carne envenenada. Os caçadores, mal instruídos.
A má gestão do território, falta de incentivos para criação de novas florestas de origem autóctone, incêndios, má gestão da agricultura, abandonando do conceito de agricultura sustentável, são usados químicos que acabam por matar toda a biodiversidade existente.



Importância biológica do lobo:


O lobo mata outros animais, devido a ser o topo da cadeia trófica, mas convém ressalvar que eles dão vida a muitas outras espécies. Um exemplo, é o que se passou no parque Natural de Yellowstone, os lobos foram reintroduzidos em 1995, mas até então estiveram ausentes durante 70 anos. O numero de veados e outros herbívoros era um numero enorme, por não terem predadores naturais. Mesmo os esforços dos humanos em caçar, não conseguiram reduzir o numero e as consequências foram que conseguiram reduzir a vegetação a um nível assustador em que já pouca comida restava para a própria espécie de veados.

Não é de estranhar que em muitos lugares onde a alguma espécie vegetal está em vias de extinção, possa ter a ver com o numero elevado de herbívoros.
Quando os lobos chegaram em 1995, houve mudanças no ecossistema, com efeitos notáveis.
Os lobos naturalmente começaram por matar alguns veados. Os veados por outro lado começaram a mudar o seu comportamento, começaram a evitar algumas zonas do parque, particularmente falo dos desfiladeiros e vales, onde havia a facilidade de serem encurralados mais facilmente. Imediatamente a flora desses locais começou a regenerar, em algumas áreas a altura das arvores quintuplicou em apenas 5 anos. Vales de mato, rapidamente se transformaram em bosques. Assim que as arvores começaram a crescer, as aves começaram aparecer, o seu numero aumentou drasticamente, e o numero de castores também. Os castores tal como os lobos, são "engenheiros" dos ecossistemas, eles criam nichos, para outras espécies.

Os lobos mataram os coiotes e como resultado disso, o numero de ratos e coelhos aumentou também, o que significa mais falcões e doninhas e mais raposas.  Corvos, desciam para se alimentar de carcaças que lobos deixavam para trás, o seu numero aumentou também, assim como os ursos, pois havia mais bagas para se alimentarem.
A parte mais interessante, é que a presença dos lobos, mudou também os comportamento dos rios. Havia menos erosão, devido á fixação de vegetação rasteira nas margens, as galerias ripícolas aumentaram,  os canais estreitaram, e naturalmente surgiram mais açudes e rápidos. Sendo que os rios, tornaram-se mais fixos, definitivamente.

Os lobos apesar de numero pequeno de efetivos, transformaram o ecossistema.

E com o tempo, outras espécies iram ser igualmente extintas.

O Javali, por exemplo, torna-se assim um animal que acaba por destruir inumeras culturas, devido ao facto de não ter um predador superior na pirâmide cadeia trófica.
O lobo controla os níveis populacionais das populações das suas presas,  o que possui implicações positivas na manutenção da diversidade do coberto vegetal e no equilíbrio ecológico. Como exemplo, pode citar-se a reintrodução de lobos no Parque Nacional de Yellowstone (EUA), cuja predação reduziu as excessivas populações de veado, o que, por sua vez, tem levado a uma consequente recuperação da diversidade florística e faunística de todo o ecossistema.
Com efeito, nas serras do Alto Minho, em áreas onde o lobo desapareceu ou rareou
nos últimos anos, a proliferação excessiva de cavalos em liberdade devido à ausência de predação do lobo,
poderá estar a conduzir a uma redução da diversidade florística, em especial de algumas plantas ameaçadas, e
por outro lado, o gado incontrolado provoca avultados prejuízos nos campos agrícolas e por vezes, até
provoca acidentes de viação com consequências fatais.
A predação do lobo possui igualmente implicações benéficas na sanidade e vitalidade das populações
das suas presas, uma vez que se alimenta, preferencialmente, dos animais mais fracos, idosos ou doentes,
prevenindo a propagação de doenças e a sobrevivência de indivíduos reprodutores menos aptos.

È importante referir que o Lobo não trás apenas prejuízo, como erradamente se possa pensar. O lobo é uma espécie-chave do nosso ecossistema; encontra-se no topo da cadeia alimentar; tem valor, contribui para a sustentabilidade da densidade biológica das diferentes espécies; tem valor cientifico, ética e riqueza cultural).
Por exemplo, a existência de Lobos ajuda a preservar a espécies tais como as aves da rapina, sendo que as carcaças deixadas para trás, servem de importante alimentos a estas aves. Sendo que as aves de rapina, tendo alimento em abundancia, deixariam de perseguir o coelho por exemplo, tendo os caçadores só a ganhar.

 A médio e longo prazo, estas aves apercebem-se que podem beneficiar com o lobo.
Houve entretanto outras espécies que lucraram com a extinção do lobo, é o caso do Javali, mas em contrapartida, outras espécies vieram a perder, como é caso de pequenos carnívoros que se alimentavam dos restos deixados para trás pelos lobos, como é o caso "gadunhi" ou mesmo até raposas.

 Ver vídeo em baixo.

O lobo só sobreviveria na nossa região se lhe proporcionarmos refúgios adequados e alimentação natural (corço, veado, e javali), e aceitarmos que possa eventualmente que este cause algumas baixas nos rebanhos, sendo os pastores indemnizados, sempre que o ataque seja comprovadamente atribuído ao lobo. A reintrodução de cervídeos - veado e corço - é fundamental para a sobrevivência dos nossos últimos Lobos
Ibéricos.

No entanto devido ao grande numero de incêndios que se tem vindo a registar nos últimos anos, seria difícil ter um habitat para o lobo e outras espécies virem a ser aplicadas.


Na década de 70, havia lobos no Alentejo, mas hoje estão, no essencial, acantonados entre o Gerês e Trás-os-Montes.


"Os lobos representam, mais do qualquer outro animal, o lado selvagem e livre da vida que perdemos e que actualmente procuramos recuperar com um afã que apenas aumenta a artificialidade do que alcançamos. São eles que nos fazem sentir e ver o caminho de que nos desviámos..." (Prefácio de Francisco Fonseca in "Lobos. Colectânea")

Algumas Características lobo Ibérico:

O peso dos machos ronda os 35 kg, chegando alguns exemplares a pesar mais de 40 kg, sendo as fêmeas mais leves, com um peso médio próximo dos 30 kg. A altura ao garrote pode passar dos 70 cm nos machos e é, em média, próxima dos 65 cm, nas fêmeas.

Os lobos dão imenso valor á sua família da mesma maneira que nós damos. Estes animais podem até ter respeito entre eles, tendo adquirindo uma hierarquia, trabalham em equipa, e ajudam até inclusive a criar os filhotes, mesmo que estes não lhes pertençam.

 Os lobos reproduzem-se unicamente uma vez por ano, nascendo as crias (em média 5 cachorros por ninhada) em Abril/Maio, após cerca de dois meses de gestação (61 a 64 dias).

 O lobo tem um comportamento furtivo. Não arrisca ser ferido ferimento e por isso é um estratega nato, observa primeiramente o rebanho guardado. Se pressentir um cão, tem o cuidado de se pôr contra o vento, para o cheiro não denunciar a sua presença. E só ataca pela certa, apanhando uma ovelha ou cabra, doente ou coxa, que fica para trás.


Por: Ricardo Ramos
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CABRAL, M. J.; M. E. OLIVEIRA; C. ROMÃO; H. M. SERÔDIO; A. TRINDADE; S. BORGES & C.P. MAGALHÃES (1987); Alguns vertebrados do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Publicações do Parque Nacional da Peneda Gerês, 48 pp.

ICN (1997). Projecto Conservação do lobo em Portugal. Relatório final no âmbito do Programa LIFE, Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.

MECH, L.D. & L. BOITANI (Eds), (2003). Wolves; Behavior, Ecology and Conservation. The University of Chicago Press. 448pp.

CABRERA, A. (1914):
- La Fauna Ibérica: Mamíferos. Museo Nacional de Ciencias Naturales, Madrid, 441 pp.