terça-feira, 30 de junho de 2015

Canaveses - O registo fotográfico de um paraíso


Poderão ver estas e outras fotos no facebook, procurem pelo grupo Canaveses City!  E partilhem com os vossos amigos para dar a conhecer este cantinho de Portugal.

Post em atualização...

Para ver e conhecer mais do meu trabalho: 500px.com/RicardoRamos5








Aldeia de Émeres.




quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O que aconteceu ao lobo da região?


È contado pelo mais velhos que outrora já teriam existido lobos na região de Canaveses. Eu por outro lado, em 25 anos, nunca me lembro de ver algum. Mas lembro-me perfeitamente de contarem, que era muitas vezes avistado nas zonas mais altas, nomeadamente nas serras, mas também que por vezes faziam "raids" á aldeia de uma ou outra vez.
Tanto é que antigamente era usual os pastores andarem sempre com mais de dois cães num rebanho de gado, fosse de cabras ou ovelhas.
Os cães estes eram "equipados" com coleiras de metal, que continham uma espécies de alfinetes, para caso o lobo atacasse o pescoço como era usual, este desistir. Os cães de gado de grande porte, serviam como proteção, até porque era no cair da noite que o lobo costumava atacar.




Detestado por uns e admirado por outros, o lobo sempre foi algo o  ódio ancestral dos pastores que não lhes perdoam os prejuízos dos seus ataques. Além dos pastores o Lobo sempre foi visto por maus olhos, pela  Igreja Católica, a qual utilizava o lobo como símbolo satânico, animal que punha em causa "o rebanho de Deus", ou seja, a Humanidade Católica.
Em Espanha por exemplo o governo dava recompensas a pessoas que abatessem o lobo, durante a década de 70, pois achava-se que um pais com lobos, era um pais de terceiro mundo, e a Espanha queria seguir os pessoas de países civilizados, que erradicaram o lobo, como é o caso da frança e Gra bretanha.

A realidade é bem diferente, o lobo é um magnífico animal, que faz parte de uma Natureza harmoniosa...

A diminuição e extinção das populações de ungulados silvestres (veado, corço, coelho, lebre), presas
naturais do lobo, fez com que este se tornasse mais dependente do consumo de animais domésticos para
sobreviver, sendo este o principal motivo do ódio do Homem para com o lobo, que o persegue ilegalmente
através do tiro, laços e veneno. Outra ameaça séria que o lobo enfrenta é a fragmentação da população devido
à proliferação de barreiras que dificultam a livre circulação de lobos (como barragens ou redes viárias de
grande fluxo de tráfego).

As taxas de mortalidade nos animais domésticos devido à predação do lobo são bastante inferiores às
verificadas devido a doenças como a Tuberculose e a Brucelose. Desta forma o impacto da predação do lobo encontra-se longe de ser a causa de maior
mortalidade nos rebanhos e, permite supor que a maioria dos animais domésticos que supostamente se consideram predados ou consumidos pelo lobo, poderão na realidade encontrar-se já fortemente debilitados ou mesmo moribundos, devido a doenças ou outras causas de morte. Assim, o lobo poderá comportar-se mais como um necrófago do que como um predador.

O Homem, ao longo dos tempos tem vindo a modificar o mundo à sua volta e tal traz consequências maioritariamente nefastas para o meio natural. Com a agricultura e a pastorícia reduziu as áreas de bosques onde o lobo costumava habitar, com a caça reduziu igualmente as suas presas -  o lobo ibérico - Canis lupus signatus -  está praticamente extinto na nossa região.


Apesar de em Trás os montes ainda existirem grande parte das alcateias existentes em Portugal, mas isso deve-se ao esforço de ONG's, como por exemplo o Grupo Lobo, que se dedicam á preservação desta espécie.



O lobo na nossa região



Já na na região de Canaveses o Lobo, nunca foi um animal muito abundante comparado com outras partes de Trás os Montes. Devido á falta de habitat favorável ao mesmo. Já como se disse anteriormente, eles quando se deslocavam á aldeia para atacar animais domésticos para sobreviver, isso significa que o alimento já seria escasso.

Os campos agrícolas, deixaram de se cultivar, existindo assim uma esperança para o lobo. O que falhou?

A caça por parte das populações que sempre o viram como algo indesejado, criando armadilhas com carne envenenada. Os caçadores, mal instruídos.
A má gestão do território, falta de incentivos para criação de novas florestas de origem autóctone, incêndios, má gestão da agricultura, abandonando do conceito de agricultura sustentável, são usados químicos que acabam por matar toda a biodiversidade existente.



Importância biológica do lobo:


O lobo mata outros animais, devido a ser o topo da cadeia trófica, mas convém ressalvar que eles dão vida a muitas outras espécies. Um exemplo, é o que se passou no parque Natural de Yellowstone, os lobos foram reintroduzidos em 1995, mas até então estiveram ausentes durante 70 anos. O numero de veados e outros herbívoros era um numero enorme, por não terem predadores naturais. Mesmo os esforços dos humanos em caçar, não conseguiram reduzir o numero e as consequências foram que conseguiram reduzir a vegetação a um nível assustador em que já pouca comida restava para a própria espécie de veados.

Não é de estranhar que em muitos lugares onde a alguma espécie vegetal está em vias de extinção, possa ter a ver com o numero elevado de herbívoros.
Quando os lobos chegaram em 1995, houve mudanças no ecossistema, com efeitos notáveis.
Os lobos naturalmente começaram por matar alguns veados. Os veados por outro lado começaram a mudar o seu comportamento, começaram a evitar algumas zonas do parque, particularmente falo dos desfiladeiros e vales, onde havia a facilidade de serem encurralados mais facilmente. Imediatamente a flora desses locais começou a regenerar, em algumas áreas a altura das arvores quintuplicou em apenas 5 anos. Vales de mato, rapidamente se transformaram em bosques. Assim que as arvores começaram a crescer, as aves começaram aparecer, o seu numero aumentou drasticamente, e o numero de castores também. Os castores tal como os lobos, são "engenheiros" dos ecossistemas, eles criam nichos, para outras espécies.

Os lobos mataram os coiotes e como resultado disso, o numero de ratos e coelhos aumentou também, o que significa mais falcões e doninhas e mais raposas.  Corvos, desciam para se alimentar de carcaças que lobos deixavam para trás, o seu numero aumentou também, assim como os ursos, pois havia mais bagas para se alimentarem.
A parte mais interessante, é que a presença dos lobos, mudou também os comportamento dos rios. Havia menos erosão, devido á fixação de vegetação rasteira nas margens, as galerias ripícolas aumentaram,  os canais estreitaram, e naturalmente surgiram mais açudes e rápidos. Sendo que os rios, tornaram-se mais fixos, definitivamente.

Os lobos apesar de numero pequeno de efetivos, transformaram o ecossistema.

E com o tempo, outras espécies iram ser igualmente extintas.

O Javali, por exemplo, torna-se assim um animal que acaba por destruir inumeras culturas, devido ao facto de não ter um predador superior na pirâmide cadeia trófica.
O lobo controla os níveis populacionais das populações das suas presas,  o que possui implicações positivas na manutenção da diversidade do coberto vegetal e no equilíbrio ecológico. Como exemplo, pode citar-se a reintrodução de lobos no Parque Nacional de Yellowstone (EUA), cuja predação reduziu as excessivas populações de veado, o que, por sua vez, tem levado a uma consequente recuperação da diversidade florística e faunística de todo o ecossistema.
Com efeito, nas serras do Alto Minho, em áreas onde o lobo desapareceu ou rareou
nos últimos anos, a proliferação excessiva de cavalos em liberdade devido à ausência de predação do lobo,
poderá estar a conduzir a uma redução da diversidade florística, em especial de algumas plantas ameaçadas, e
por outro lado, o gado incontrolado provoca avultados prejuízos nos campos agrícolas e por vezes, até
provoca acidentes de viação com consequências fatais.
A predação do lobo possui igualmente implicações benéficas na sanidade e vitalidade das populações
das suas presas, uma vez que se alimenta, preferencialmente, dos animais mais fracos, idosos ou doentes,
prevenindo a propagação de doenças e a sobrevivência de indivíduos reprodutores menos aptos.

È importante referir que o Lobo não trás apenas prejuízo, como erradamente se possa pensar. O lobo é uma espécie-chave do nosso ecossistema; encontra-se no topo da cadeia alimentar; tem valor, contribui para a sustentabilidade da densidade biológica das diferentes espécies; tem valor cientifico, ética e riqueza cultural).
Por exemplo, a existência de Lobos ajuda a preservar a espécies tais como as aves da rapina, sendo que as carcaças deixadas para trás, servem de importante alimentos a estas aves. Sendo que as aves de rapina, tendo alimento em abundancia, deixariam de perseguir o coelho por exemplo, tendo os caçadores só a ganhar.

 A médio e longo prazo, estas aves apercebem-se que podem beneficiar com o lobo.
Houve entretanto outras espécies que lucraram com a extinção do lobo, é o caso do Javali, mas em contrapartida, outras espécies vieram a perder, como é caso de pequenos carnívoros que se alimentavam dos restos deixados para trás pelos lobos, como é o caso "gadunhi" ou mesmo até raposas.

 Ver vídeo em baixo.

O lobo só sobreviveria na nossa região se lhe proporcionarmos refúgios adequados e alimentação natural (corço, veado, e javali), e aceitarmos que possa eventualmente que este cause algumas baixas nos rebanhos, sendo os pastores indemnizados, sempre que o ataque seja comprovadamente atribuído ao lobo. A reintrodução de cervídeos - veado e corço - é fundamental para a sobrevivência dos nossos últimos Lobos
Ibéricos.

No entanto devido ao grande numero de incêndios que se tem vindo a registar nos últimos anos, seria difícil ter um habitat para o lobo e outras espécies virem a ser aplicadas.


Na década de 70, havia lobos no Alentejo, mas hoje estão, no essencial, acantonados entre o Gerês e Trás-os-Montes.


"Os lobos representam, mais do qualquer outro animal, o lado selvagem e livre da vida que perdemos e que actualmente procuramos recuperar com um afã que apenas aumenta a artificialidade do que alcançamos. São eles que nos fazem sentir e ver o caminho de que nos desviámos..." (Prefácio de Francisco Fonseca in "Lobos. Colectânea")

Algumas Características lobo Ibérico:

O peso dos machos ronda os 35 kg, chegando alguns exemplares a pesar mais de 40 kg, sendo as fêmeas mais leves, com um peso médio próximo dos 30 kg. A altura ao garrote pode passar dos 70 cm nos machos e é, em média, próxima dos 65 cm, nas fêmeas.

Os lobos dão imenso valor á sua família da mesma maneira que nós damos. Estes animais podem até ter respeito entre eles, tendo adquirindo uma hierarquia, trabalham em equipa, e ajudam até inclusive a criar os filhotes, mesmo que estes não lhes pertençam.

 Os lobos reproduzem-se unicamente uma vez por ano, nascendo as crias (em média 5 cachorros por ninhada) em Abril/Maio, após cerca de dois meses de gestação (61 a 64 dias).

 O lobo tem um comportamento furtivo. Não arrisca ser ferido ferimento e por isso é um estratega nato, observa primeiramente o rebanho guardado. Se pressentir um cão, tem o cuidado de se pôr contra o vento, para o cheiro não denunciar a sua presença. E só ataca pela certa, apanhando uma ovelha ou cabra, doente ou coxa, que fica para trás.


Por: Ricardo Ramos
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CABRAL, M. J.; M. E. OLIVEIRA; C. ROMÃO; H. M. SERÔDIO; A. TRINDADE; S. BORGES & C.P. MAGALHÃES (1987); Alguns vertebrados do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Publicações do Parque Nacional da Peneda Gerês, 48 pp.

ICN (1997). Projecto Conservação do lobo em Portugal. Relatório final no âmbito do Programa LIFE, Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.

MECH, L.D. & L. BOITANI (Eds), (2003). Wolves; Behavior, Ecology and Conservation. The University of Chicago Press. 448pp.

CABRERA, A. (1914):
- La Fauna Ibérica: Mamíferos. Museo Nacional de Ciencias Naturales, Madrid, 441 pp.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Região de Valpaços, por José Hermano Saraiva

Este é um video de 2001, apresentado pelo Professor José Hermano Saraiva, num dos mais ricos programas que já passou na televisão Portuguesa, o Horizontes da memória.
De facto foi curioso saber algumas particularidades, que desconhecia á cerca da região, mas também muita coisa ficou por contar, mas para contar tudo eram precisas muitas horas de programa.
A parte em que falam das minas, de facto em Canavezes, existem inclusive duas minas, na parte a Este da aldeia perto do cemitério. Até á data nunca soube de que se tratavam. Sabia que estavam cheias de agua, e sempre me disseram que eram para esse mesmo fim, a procura de agua. Mas na verdade, as terras em sí já são ricas e abundantes de água, além disso o rio passa mesmo perto e já para não falar da própria escavação das próprias minas, que ainda tem uns bons metros, não se justificaria serem só para exploração de água. Sendo assim segundo alguma teoria do video, poderia muito bem ter sido, para exploração de estanho ou ouro, apesar de ter algumas duvidas, quanto a esta ultima.

O filme falou e muito bem do "ouro" transmontano a azeite, sem deixar de ressalvar o vinho e a castanha.
Ainda assim julguei que se fosse focar mais na história em sí, que era algo que a mim particularmente me interessaria.
Falou também da riqueza arqueológica, que apesar de ser muita, está ao abandono. Os desertos de granito e floresta que se fala, têm se perdido, ao longo dos anos, por culpa dos incêndios. Ainda assim houve coisas que melhoraram desde 2001, as estradas por exemplo.



Ainda sobre o povo de trás os Montes. Visto que estudos recentes, demonstram que 20% da população portuguesa são de ascendência Judaica, e 10% Africana, somos talvez nós os transmontanos, os de linhagem dos celta mais pura. Pois devido á ocupação árabe, que se manteve durante imenso tempo mais para sul, no norte sempre foi terra de bravos guerreiros e gente de muito trabalho. E como o professor diz muito bem "Em trás os montes, fica mal, não trabalhar"

domingo, 4 de maio de 2014

Aldeia de Canaveses


A Aldeia de Canavezes.
por Ricardo Ramos
A freguesia de Canaveses encontra-se no extremo sul do concelho de Valpaços, fazendo fronteira com o concelho de Murça.

Tem como anexas, as aldeias de Cadouço e Émeres. É uma freguesia de povoamento remoto. Em seu redor, abundam vestígios castrejos nas zonas mais altas, tal como a apelidada "Cerca dos Mouros", já aqui referida neste blog.





Canaveses ou Canavezes, sempre foi uma aldeia ligada à agricultura. As pessoas viviam para trabalhar. Sabe-se que até meados do século XX, o povo, de classe social mais pobre, tinha poucas terras ou "prédios", como são designados também. Trabalhavam maioritariamente para classes sociais mais ricas. No caso particular de Canavezes, a casa "Lage" era a casa com mais poder, económico, social e de bens da aldeia, assim como o clero, neste caso o pároco ou padre, também tinha grande influencia nas pessoas, que por sua vez sempre foram muito ligadas à religião católica. Sendo que os padres e todas as entidades ligadas à igreja, sempre foram imensamente respeitadas pelas pessoas da região.


A Aldeia

A aldeia de Canavezes já remonta desde o século XIII, altura essa em que pertencia ao reitor de S.Pedro e Vales, província de Orelhão. Viria a pertencer a Chaves mais tarde, e só em 1853 faria parte oficialmente do concelho de Valpaços.
Desconfia-se que Canavezes tenha começado por ser uma aldeia muito pequena, sendo que o cemitério já teria sido num outro local, diferente do actual. Era um cemitério com pouca dimensão, o que remete a que tivesse havido poucas pessoas a habitar a aldeia propriamente dita. Só mais tarde por volta do ano de 1900 (data em dúvida), houve a necessidade de fazer um cemitério maior. Pensa-se que as pessoas se instalariam naquela zona, pelo facto de esta ser atraída pelos campos de boa colheita. As suas "olgas" férteis, estendem-se ao longo da aldeia, acompanhadas pelo rio, que atravessa a mesma de uma ponta à outra.
Com paisagens permanentes, e espectacularmente belas, fazem desta aldeia um pedaço do Reino Maravilhoso de Miguel Torga. Um reino esquecido num cantinho deste Portugal, um pedaço à parte, que só quem lá viveu, entende o que as palavras não conseguem transmitir.


Religião
O padre tinha direito às suas próprias terras, cujo rendimento era para seu consumo, assim como lhe era oferecida uma casa onde podia ficar instalado. A antiga casa do padre, além de casa de habitação do mesmo, já tinha sido utilizada como escola. As terras que pertencem ao padre, ainda hoje existem, sendo administradas pelos comissários da igreja. A casa do pároco foi remodelada recentemente, tendo sido convertida recentemente em sala de câmara ardente para possíveis defuntos.
Canavezes ainda hoje continua uma aldeia, bastante ligada à religião. A missa, ainda é celebrada todos os Domingos do ano. Existem uma festa em honra de Santa Barbara, que é celebrada no Verão, que geralmente, reúne muitos filhos da terra, sendo que a maior parte são emigrantes .


O trabalho

As pessoas trabalhavam de "sol a sol", os filhos estudavam apenas e só até ao 4º ano, ou 4ªclasse, como era assim dito na altura. Depois disso o seu destino era ajudar os pais na agricultura e na criação de gado. As pessoas, jamais se queixavam do trabalho, desde as vindimas, à apanha da azeitona e às segadas de verão, eram feitas sempre com muito suor, sempre regadas de vinho, o nectar dos deuses.
O azeite e o vinho são o ex libris da região, sendo que ainda hoje é comercializado e sempre com muita fama de bom produto. A alimentação era maioritariamente à base de batatas e grelos, e por vezes fumeiro característico da região, alheiras, linguiça e salpicão. As carnes eram conservadas nas designadas "salgadeiras", que se encontravam sempre em locais mais frescos da casa, geralmente, em caves. Mais tarde as salgadeiras foram substituídas pelos, frigoríficos e arcas frigoríficas.

O gado
A criação de gado, sempre esteve também muito presente nos costumes da aldeia, tanto gado caprino, como ovino e bovino.
Crê-se que no inicio os pastores de bovinos, criavam pequenas quantidades de cabeças de gado e todas elas se destinavam para a venda em feiras. Os bovinos, ainda em idade jovem, designados por vitelos. Feiras que merecem ser referenciadas como a feira de Carrazedo Montenegro, que era a mais perto, geograficamente da aldeia. Só mais tarde, já depois do 25 de Abril, os pastores começaram a criar gado bovino em maior quantidade, igualmente para venda, mas também para consumo próprio. O gado caprino sempre esteve em menor quantidade, conhecendo-se mais recentemente, nunca mais que um rebanho. Já o gado ovino, sempre houve em bastante abundância, conhecendo-se ainda nos anos 90, nunca menos de quatro rebanhos de gado. Actualmente só já existem dois rebanhos de gado.
Antigo Moinho, desactivado.

Para proceder à lavragem das terras, eram usados animais, geralmente burros, machos, mulas ou bois, nunca ou quase, nunca eram usados cavalos. Era graças a estes animais que o trabalho era feito, muitas vezes trabalhavam em par, chamando-se "junta". Eram ensinados desde jovens a obedecer, sendo necessário"amanssá-los" e também muitas vezes castrá-los.
Os burros eram os animais mais requisitados, por serem animais dóceis e mais fáceis de domesticar e ensinar, mas tinham menos força que os machos e as juntas de bois. Só mais tarde, já na época dos anos 90 do século passado, é que começaram a aparecer os tractores agrícolas, que vieram substituir estes animais, como animas de trabalho. Enquanto nos anos 60, quase todas as casas tinham uma junta, hoje já quase não existem, vêm-se apenas esporadicamente, pessoas mais idosas que fazem questão de ainda os preservar.

Pessoas
As pessoas de Canaveses, assim como as das aldeias vizinhas, são pessoas simples e acolhedoras, com as mãos cheias de cicatrizes e calos, que o trabalho jamais perdoou um único dia dos seus tenros anos. São pessoas, que viram partir os seus filhos, à procura de uma vida melhor, filhos esses que souberam desde cedo o quanto era difícil a vida na aldeia. Regressam uma ou duas vezes por ano, com grandes sorrisos estampados no rosto, cheios de alegria por voltar à terra que os viu nascer, e vão embora sempre com as lágrimas nos olhos, com um sentimento que soube a pouco, "para o ano, voltarei se Deus quiser".
Os pais desde cedo fizeram questão de passar a melhor educação para os seus filhos, gente de brandos costumes, sempre com a porta "escancarada" para quem quiser entrar.
Canaveses é um cantinho de Trás-os-montes, um cantinho feliz rodeado de montes, com terras e pedras que contam histórias.
Canavezes é uma lareira acesa durante o frio do inverno, uma azeitona que cai sobre o tolde, é uma uva, ansiosa por ser vinho. Canavezes, faz do sol o seu relógio, é o suor que encharca as camisas dos homens, e os cestos levados à cabeça das mulheres, são as crianças que brinca junto ao rio nas tardes de calor de Domingo. Canavezes é o cantinho onde vamos querer falecer, mas dizer:  aqui já fui feliz.

Trigo que nasce da terra
No fim de muita canseira
Como um filho é tratado
E se o trigo é um filho
Da terra que o fez medrar
Não pode mandar na terra
Quem a terra não amar.

Texto: Ricardo Ramos
NOTA: fotos presentes neste texto, foram retiradas aleatoriamente da internet, caso o autor das mesmas, pretenda que as retire, avise via e.mail. 




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Pedaço de um passado

Desde criança que a minha curiosidade tinha sido aguçada, por ouvir contar  ás pessoas mais velhas, que havia pessoas que se distanciaram da aldeia de Canavezes, preferindo viver na mais profunda solidão, na altas serras. De facto sempre assim foi, a historia conta-nos que sempre houve pessoas, que preferiram o contacto ainda mais próximo com a natureza do que o burburinho das pessoas.
A razão não se sabe, os tempos eram diferentes, havia mil razoes para o fazer e para não o fazer, viver solitárias no profundo vale, porque?
È aqui que entramos no bucolismo e no arcadismo, termos utilizados para designar uma espécie de poesia pastoral, que descreve a qualidade ou o carácter dos costumes rurais, exaltando as belezas da vida campestre e da natureza. "o mito do homem natural em oposição ao homem corrompido pela sociedade"

Pois bem, há muito tempo que sentia esta necessidade de ir investigar. Foi então que resolvi, subir á serra e ir visitar a chamada fraga da toca  e a "casa" do misterioso homem que viveu perto da aldeia do castelo, sozinho, com o seu cão e o seu burro. 
Vista superior - Fraga da toca
O nome Fraga da Toca deriva do facto de este aglomerado de pedras de origem natural conter uma cavidade natural rochosa com grandes dimensões que permitia o acesso aos seres humanos. O seu desenvolvimento é vertical e o interior possui sete a dez metros quadrados. 

Á primeira vista supõem se que poderia ser usada como abrigo natural, mas no interior da caverna não existe qualquer indicio de presença humana. 
Mesmo assim, devido a verticalidade do terreno, é de ainda de difícil acesso para aceder ao seu interior.
O orifício de entrada é originário de uma série de processos geológicos que podem envolver uma combinação de transformações químicas, tectónicas  biológicas e atmosféricas sobretudo, até porque não sou geólogo, não posso afirmar nem apresentar grandes argumentos.
        Devido às condições ambientais exclusivas da caverna, pode dizer-se que é considerado um verdadeiro ecossistema. Outros animais, como os morcegos, podem transitar entre seu interior e exterior.


O principal motivo para que a fraga da toca não tenha sido "escolhida" para habitação, são principalmente pelo seu difícil acesso já referido e também por causa da extrema humidade, pois basta uma vista rápida para perceber que no tempo de chuva a caverna não é o sitio mais confortável para viver. O facto de se situar no cimo de um pico de um monte, faz com que os fortes ventos de inverno, se façam incidir. 

Ainda assim consegue-se perceber "manchas" causadas pelo fumo, podendo dar  a impressão que eram causadas pelas fogueiras que se poderia ter acendido no interior da caverna, mas na verdade essas manchas foram causadas pelo incêndios ao longo dos anos. 
A caverna é suficientemente húmida, e de inverno pode ser dificil acender uma fogueira sequer,  o vento também ajuda a que se torne uma quase missão complicada.
O Interior? bem no interior a vista é espectacular. Apetece mesmo lá viver. Acredito que em dias em que a paisagem não tenha sofrido com os incêndios, a vista seria ainda mais gloriosa. 
Posso então dizer que apesar do nome "toca" apelar á imaginação que possa ter ter servido de abrigo alguém, de facto pelas razoes já mencionadas isso não possível.
De facto nem há qualquer sinal ou indicio que os animais poderiam utilizar como casa, dai reforça a minha ideia.
 O interior apresenta uma fauna especializada para viver em ambientes escuros e como é o caso dos morcegos, com vegetação nativa (fentos) e líquenes (musgos) dando estes indicio de humidade, que escorre da parte superior. 


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Continuamos a caminhar em busca da caverna que abrigou o homem cujo ninguém sabe o nome.
A primeira vez que visitei este local estava á espera de encontrar uma caverna típica  utilizada na idade remota, como ambiente seguro e moradia para o homem primitivo, estava á espera de encontrar uma imensa variedade de evidências arqueológicas e pura arte rupestre ou então algo ligado á "cerca dos mouros" não muito distante deste local. Poderão ler aquihttp://canavezesaldeia.blogspot.pt/2013/02/cerca-dos-mouros-canaveses.html

A enorme quantidade de matéria prima, dizia-me que este sim, seria um sitio ideal para a morar. A vegetação camuflava muito bem a gruta, isso agora já não acontecia devido ao impacto do recente do incêndio.
Pormenor da parte superior da caverna.

Do outro lado do vale é possível visualizar aglomerados de pedras, que indicam actividade agrícola, sendo que a hipotse de a caverna pertencer ao paleolítico começava a ser descartada. Talvez sim a uma era bem mais recente.
Finalmente a chegada!! O sitio é remoto pois fica no fundo de um regato ou de um vale como preferirem, com fácil acesso a um pequeno ribeiro que nunca seca, a terra é propicia á agricultura. O local ideal para se viver.

A arquitectura é básica, foi acrescentada á condição geológica natural , duas paredes pensadas.
A caverna foi inteligentemente escolhida pelo seu habitante, esta zona particular é fresca de Verão e uma fogueira de Inverno era suficiente para se viver confortável.
O risco de cheia ou enchente, não representava um perigo, ate porque é aqui neste vale que nasce o rio que vai ate Canaveses. Por isso o leito do rio aqui nesta zona em particular, nunca chega a aumentar significativamente.

 No entanto o leitor irá desconfiar que esta caverna não foi usada como habitação, irá dizer que é apenas uma "casuca" usada pelas pessoas para se abrigarem quando, á chegada das chuvas enquanto andavam a trabalhar. Mas existem uma série de evidências arqueológicas que provam que foi de facto um local de habitação.
Já no interior o que salta logo á vista é uma espécie de banco que servia para alguém se sentar ou mesmo deitar. É um ambiente único, em que não ao centro, mas ligeiramente na parte sul se localizava a fogueira, que servia para aquecer e também para cozinhar. Conta com uma abertura na cobertura que servia como chaminé, respiradouro e acesso. No entanto é aqui que reside uma reflexão, se não fosse para passar bastante tempo o suficiente, haveria a necessidade de construir este bancos? - porque caso contrário, para passar pouco tempo, a própria caverna já oferecia saliências para se sentar, mas menos confortavelmente.

A própria zona da fogueira tem alguma erosao causada pelos sucessivos fogos, 
Há um elemento sempre presente, nos locais, desde que o homem aprendeu a dominá-lo: o fogo.
A minha avó afirmar que já não se lembrava de alguém viver aqui, mas que era do tempo dos mais velhos que ela. Desconfio que a pessoa que viveu aqui, teria sido alguém que tenha fugido á Guerra, nomeadamente á Primeira Guerra Mundial na qual Portugal participou.
Pormenor da entrada
Poucos metros mais abaixo, existe outra construção, que suponho que pertencia ao tal burro. È uma construção mais pobre, mais húmida e menos protegida. No entanto isso só reforça a minha ideia de que realmente tenha vivido mesmo aqui alguém.
Também convém salientar que da primeira vez que visitei este local, havia vestígios de restos de vinha abandonada assim como árvores de fruto. No entanto nunca houve relatos que esta zona tenha sido cultivada recentemente, o que só indica que alguém viveu aqui, muito provavelmente no inicio do sec.XX.
Pormenor da entrada para a casa do animal, o burro

No entanto mais acima, encontrei umas escrituras que não consegui decifrar, penso que não teriam significado algum, eram apenas uma espécie de inscrição na rocha em forma de uma ferradura de um cavalo. Não foi encontrado qualquer objecto que remetesse para época em questão, o que faz deste texto algo insignificante se objectivo for direccionado para a vertente puramente arqueológica.
No entanto o meu objectivo foi apenas dar a conhecer, não só o património geológico da nossa terra,  com magnificas cavernas embutidas nas rochas, mas também algo que já não se encontra nos dias de hoje, o Homem em busca da solidão, e encontro com a natureza, o bucolismo como é assim designado.

Ainda existem mais cavernas na região que espero poder explorar futuramente.

Talvez a nossa terra tenha mais histórias para nos contar do que aquelas que alguma vez imaginamos.


Texto e fotografia

Ricardo Ramos