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terça-feira, 30 de junho de 2015

Canaveses - O registo fotográfico de um paraíso


Poderão ver estas e outras fotos no facebook, procurem pelo grupo Canaveses City!  E partilhem com os vossos amigos para dar a conhecer este cantinho de Portugal.

Post em atualização...

Para ver e conhecer mais do meu trabalho: 500px.com/RicardoRamos5








Aldeia de Émeres.




domingo, 4 de maio de 2014

Aldeia de Canaveses


A Aldeia de Canavezes.
por Ricardo Ramos
A freguesia de Canaveses encontra-se no extremo sul do concelho de Valpaços, fazendo fronteira com o concelho de Murça.

Tem como anexas, as aldeias de Cadouço e Émeres. É uma freguesia de povoamento remoto. Em seu redor, abundam vestígios castrejos nas zonas mais altas, tal como a apelidada "Cerca dos Mouros", já aqui referida neste blog.





Canaveses ou Canavezes, sempre foi uma aldeia ligada à agricultura. As pessoas viviam para trabalhar. Sabe-se que até meados do século XX, o povo, de classe social mais pobre, tinha poucas terras ou "prédios", como são designados também. Trabalhavam maioritariamente para classes sociais mais ricas. No caso particular de Canavezes, a casa "Lage" era a casa com mais poder, económico, social e de bens da aldeia, assim como o clero, neste caso o pároco ou padre, também tinha grande influencia nas pessoas, que por sua vez sempre foram muito ligadas à religião católica. Sendo que os padres e todas as entidades ligadas à igreja, sempre foram imensamente respeitadas pelas pessoas da região.


A Aldeia

A aldeia de Canavezes já remonta desde o século XIII, altura essa em que pertencia ao reitor de S.Pedro e Vales, província de Orelhão. Viria a pertencer a Chaves mais tarde, e só em 1853 faria parte oficialmente do concelho de Valpaços.
Desconfia-se que Canavezes tenha começado por ser uma aldeia muito pequena, sendo que o cemitério já teria sido num outro local, diferente do actual. Era um cemitério com pouca dimensão, o que remete a que tivesse havido poucas pessoas a habitar a aldeia propriamente dita. Só mais tarde por volta do ano de 1900 (data em dúvida), houve a necessidade de fazer um cemitério maior. Pensa-se que as pessoas se instalariam naquela zona, pelo facto de esta ser atraída pelos campos de boa colheita. As suas "olgas" férteis, estendem-se ao longo da aldeia, acompanhadas pelo rio, que atravessa a mesma de uma ponta à outra.
Com paisagens permanentes, e espectacularmente belas, fazem desta aldeia um pedaço do Reino Maravilhoso de Miguel Torga. Um reino esquecido num cantinho deste Portugal, um pedaço à parte, que só quem lá viveu, entende o que as palavras não conseguem transmitir.


Religião
O padre tinha direito às suas próprias terras, cujo rendimento era para seu consumo, assim como lhe era oferecida uma casa onde podia ficar instalado. A antiga casa do padre, além de casa de habitação do mesmo, já tinha sido utilizada como escola. As terras que pertencem ao padre, ainda hoje existem, sendo administradas pelos comissários da igreja. A casa do pároco foi remodelada recentemente, tendo sido convertida recentemente em sala de câmara ardente para possíveis defuntos.
Canavezes ainda hoje continua uma aldeia, bastante ligada à religião. A missa, ainda é celebrada todos os Domingos do ano. Existem uma festa em honra de Santa Barbara, que é celebrada no Verão, que geralmente, reúne muitos filhos da terra, sendo que a maior parte são emigrantes .


O trabalho

As pessoas trabalhavam de "sol a sol", os filhos estudavam apenas e só até ao 4º ano, ou 4ªclasse, como era assim dito na altura. Depois disso o seu destino era ajudar os pais na agricultura e na criação de gado. As pessoas, jamais se queixavam do trabalho, desde as vindimas, à apanha da azeitona e às segadas de verão, eram feitas sempre com muito suor, sempre regadas de vinho, o nectar dos deuses.
O azeite e o vinho são o ex libris da região, sendo que ainda hoje é comercializado e sempre com muita fama de bom produto. A alimentação era maioritariamente à base de batatas e grelos, e por vezes fumeiro característico da região, alheiras, linguiça e salpicão. As carnes eram conservadas nas designadas "salgadeiras", que se encontravam sempre em locais mais frescos da casa, geralmente, em caves. Mais tarde as salgadeiras foram substituídas pelos, frigoríficos e arcas frigoríficas.

O gado
A criação de gado, sempre esteve também muito presente nos costumes da aldeia, tanto gado caprino, como ovino e bovino.
Crê-se que no inicio os pastores de bovinos, criavam pequenas quantidades de cabeças de gado e todas elas se destinavam para a venda em feiras. Os bovinos, ainda em idade jovem, designados por vitelos. Feiras que merecem ser referenciadas como a feira de Carrazedo Montenegro, que era a mais perto, geograficamente da aldeia. Só mais tarde, já depois do 25 de Abril, os pastores começaram a criar gado bovino em maior quantidade, igualmente para venda, mas também para consumo próprio. O gado caprino sempre esteve em menor quantidade, conhecendo-se mais recentemente, nunca mais que um rebanho. Já o gado ovino, sempre houve em bastante abundância, conhecendo-se ainda nos anos 90, nunca menos de quatro rebanhos de gado. Actualmente só já existem dois rebanhos de gado.
Antigo Moinho, desactivado.

Para proceder à lavragem das terras, eram usados animais, geralmente burros, machos, mulas ou bois, nunca ou quase, nunca eram usados cavalos. Era graças a estes animais que o trabalho era feito, muitas vezes trabalhavam em par, chamando-se "junta". Eram ensinados desde jovens a obedecer, sendo necessário"amanssá-los" e também muitas vezes castrá-los.
Os burros eram os animais mais requisitados, por serem animais dóceis e mais fáceis de domesticar e ensinar, mas tinham menos força que os machos e as juntas de bois. Só mais tarde, já na época dos anos 90 do século passado, é que começaram a aparecer os tractores agrícolas, que vieram substituir estes animais, como animas de trabalho. Enquanto nos anos 60, quase todas as casas tinham uma junta, hoje já quase não existem, vêm-se apenas esporadicamente, pessoas mais idosas que fazem questão de ainda os preservar.

Pessoas
As pessoas de Canaveses, assim como as das aldeias vizinhas, são pessoas simples e acolhedoras, com as mãos cheias de cicatrizes e calos, que o trabalho jamais perdoou um único dia dos seus tenros anos. São pessoas, que viram partir os seus filhos, à procura de uma vida melhor, filhos esses que souberam desde cedo o quanto era difícil a vida na aldeia. Regressam uma ou duas vezes por ano, com grandes sorrisos estampados no rosto, cheios de alegria por voltar à terra que os viu nascer, e vão embora sempre com as lágrimas nos olhos, com um sentimento que soube a pouco, "para o ano, voltarei se Deus quiser".
Os pais desde cedo fizeram questão de passar a melhor educação para os seus filhos, gente de brandos costumes, sempre com a porta "escancarada" para quem quiser entrar.
Canaveses é um cantinho de Trás-os-montes, um cantinho feliz rodeado de montes, com terras e pedras que contam histórias.
Canavezes é uma lareira acesa durante o frio do inverno, uma azeitona que cai sobre o tolde, é uma uva, ansiosa por ser vinho. Canavezes, faz do sol o seu relógio, é o suor que encharca as camisas dos homens, e os cestos levados à cabeça das mulheres, são as crianças que brinca junto ao rio nas tardes de calor de Domingo. Canavezes é o cantinho onde vamos querer falecer, mas dizer:  aqui já fui feliz.

Trigo que nasce da terra
No fim de muita canseira
Como um filho é tratado
E se o trigo é um filho
Da terra que o fez medrar
Não pode mandar na terra
Quem a terra não amar.

Texto: Ricardo Ramos
NOTA: fotos presentes neste texto, foram retiradas aleatoriamente da internet, caso o autor das mesmas, pretenda que as retire, avise via e.mail. 




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Pedaço de um passado

Desde criança que a minha curiosidade tinha sido aguçada, por ouvir contar  ás pessoas mais velhas, que havia pessoas que se distanciaram da aldeia de Canavezes, preferindo viver na mais profunda solidão, na altas serras. De facto sempre assim foi, a historia conta-nos que sempre houve pessoas, que preferiram o contacto ainda mais próximo com a natureza do que o burburinho das pessoas.
A razão não se sabe, os tempos eram diferentes, havia mil razoes para o fazer e para não o fazer, viver solitárias no profundo vale, porque?
È aqui que entramos no bucolismo e no arcadismo, termos utilizados para designar uma espécie de poesia pastoral, que descreve a qualidade ou o carácter dos costumes rurais, exaltando as belezas da vida campestre e da natureza. "o mito do homem natural em oposição ao homem corrompido pela sociedade"

Pois bem, há muito tempo que sentia esta necessidade de ir investigar. Foi então que resolvi, subir á serra e ir visitar a chamada fraga da toca  e a "casa" do misterioso homem que viveu perto da aldeia do castelo, sozinho, com o seu cão e o seu burro. 
Vista superior - Fraga da toca
O nome Fraga da Toca deriva do facto de este aglomerado de pedras de origem natural conter uma cavidade natural rochosa com grandes dimensões que permitia o acesso aos seres humanos. O seu desenvolvimento é vertical e o interior possui sete a dez metros quadrados. 

Á primeira vista supõem se que poderia ser usada como abrigo natural, mas no interior da caverna não existe qualquer indicio de presença humana. 
Mesmo assim, devido a verticalidade do terreno, é de ainda de difícil acesso para aceder ao seu interior.
O orifício de entrada é originário de uma série de processos geológicos que podem envolver uma combinação de transformações químicas, tectónicas  biológicas e atmosféricas sobretudo, até porque não sou geólogo, não posso afirmar nem apresentar grandes argumentos.
        Devido às condições ambientais exclusivas da caverna, pode dizer-se que é considerado um verdadeiro ecossistema. Outros animais, como os morcegos, podem transitar entre seu interior e exterior.


O principal motivo para que a fraga da toca não tenha sido "escolhida" para habitação, são principalmente pelo seu difícil acesso já referido e também por causa da extrema humidade, pois basta uma vista rápida para perceber que no tempo de chuva a caverna não é o sitio mais confortável para viver. O facto de se situar no cimo de um pico de um monte, faz com que os fortes ventos de inverno, se façam incidir. 

Ainda assim consegue-se perceber "manchas" causadas pelo fumo, podendo dar  a impressão que eram causadas pelas fogueiras que se poderia ter acendido no interior da caverna, mas na verdade essas manchas foram causadas pelo incêndios ao longo dos anos. 
A caverna é suficientemente húmida, e de inverno pode ser dificil acender uma fogueira sequer,  o vento também ajuda a que se torne uma quase missão complicada.
O Interior? bem no interior a vista é espectacular. Apetece mesmo lá viver. Acredito que em dias em que a paisagem não tenha sofrido com os incêndios, a vista seria ainda mais gloriosa. 
Posso então dizer que apesar do nome "toca" apelar á imaginação que possa ter ter servido de abrigo alguém, de facto pelas razoes já mencionadas isso não possível.
De facto nem há qualquer sinal ou indicio que os animais poderiam utilizar como casa, dai reforça a minha ideia.
 O interior apresenta uma fauna especializada para viver em ambientes escuros e como é o caso dos morcegos, com vegetação nativa (fentos) e líquenes (musgos) dando estes indicio de humidade, que escorre da parte superior. 


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Continuamos a caminhar em busca da caverna que abrigou o homem cujo ninguém sabe o nome.
A primeira vez que visitei este local estava á espera de encontrar uma caverna típica  utilizada na idade remota, como ambiente seguro e moradia para o homem primitivo, estava á espera de encontrar uma imensa variedade de evidências arqueológicas e pura arte rupestre ou então algo ligado á "cerca dos mouros" não muito distante deste local. Poderão ler aquihttp://canavezesaldeia.blogspot.pt/2013/02/cerca-dos-mouros-canaveses.html

A enorme quantidade de matéria prima, dizia-me que este sim, seria um sitio ideal para a morar. A vegetação camuflava muito bem a gruta, isso agora já não acontecia devido ao impacto do recente do incêndio.
Pormenor da parte superior da caverna.

Do outro lado do vale é possível visualizar aglomerados de pedras, que indicam actividade agrícola, sendo que a hipotse de a caverna pertencer ao paleolítico começava a ser descartada. Talvez sim a uma era bem mais recente.
Finalmente a chegada!! O sitio é remoto pois fica no fundo de um regato ou de um vale como preferirem, com fácil acesso a um pequeno ribeiro que nunca seca, a terra é propicia á agricultura. O local ideal para se viver.

A arquitectura é básica, foi acrescentada á condição geológica natural , duas paredes pensadas.
A caverna foi inteligentemente escolhida pelo seu habitante, esta zona particular é fresca de Verão e uma fogueira de Inverno era suficiente para se viver confortável.
O risco de cheia ou enchente, não representava um perigo, ate porque é aqui neste vale que nasce o rio que vai ate Canaveses. Por isso o leito do rio aqui nesta zona em particular, nunca chega a aumentar significativamente.

 No entanto o leitor irá desconfiar que esta caverna não foi usada como habitação, irá dizer que é apenas uma "casuca" usada pelas pessoas para se abrigarem quando, á chegada das chuvas enquanto andavam a trabalhar. Mas existem uma série de evidências arqueológicas que provam que foi de facto um local de habitação.
Já no interior o que salta logo á vista é uma espécie de banco que servia para alguém se sentar ou mesmo deitar. É um ambiente único, em que não ao centro, mas ligeiramente na parte sul se localizava a fogueira, que servia para aquecer e também para cozinhar. Conta com uma abertura na cobertura que servia como chaminé, respiradouro e acesso. No entanto é aqui que reside uma reflexão, se não fosse para passar bastante tempo o suficiente, haveria a necessidade de construir este bancos? - porque caso contrário, para passar pouco tempo, a própria caverna já oferecia saliências para se sentar, mas menos confortavelmente.

A própria zona da fogueira tem alguma erosao causada pelos sucessivos fogos, 
Há um elemento sempre presente, nos locais, desde que o homem aprendeu a dominá-lo: o fogo.
A minha avó afirmar que já não se lembrava de alguém viver aqui, mas que era do tempo dos mais velhos que ela. Desconfio que a pessoa que viveu aqui, teria sido alguém que tenha fugido á Guerra, nomeadamente á Primeira Guerra Mundial na qual Portugal participou.
Pormenor da entrada
Poucos metros mais abaixo, existe outra construção, que suponho que pertencia ao tal burro. È uma construção mais pobre, mais húmida e menos protegida. No entanto isso só reforça a minha ideia de que realmente tenha vivido mesmo aqui alguém.
Também convém salientar que da primeira vez que visitei este local, havia vestígios de restos de vinha abandonada assim como árvores de fruto. No entanto nunca houve relatos que esta zona tenha sido cultivada recentemente, o que só indica que alguém viveu aqui, muito provavelmente no inicio do sec.XX.
Pormenor da entrada para a casa do animal, o burro

No entanto mais acima, encontrei umas escrituras que não consegui decifrar, penso que não teriam significado algum, eram apenas uma espécie de inscrição na rocha em forma de uma ferradura de um cavalo. Não foi encontrado qualquer objecto que remetesse para época em questão, o que faz deste texto algo insignificante se objectivo for direccionado para a vertente puramente arqueológica.
No entanto o meu objectivo foi apenas dar a conhecer, não só o património geológico da nossa terra,  com magnificas cavernas embutidas nas rochas, mas também algo que já não se encontra nos dias de hoje, o Homem em busca da solidão, e encontro com a natureza, o bucolismo como é assim designado.

Ainda existem mais cavernas na região que espero poder explorar futuramente.

Talvez a nossa terra tenha mais histórias para nos contar do que aquelas que alguma vez imaginamos.


Texto e fotografia

Ricardo Ramos