domingo, 4 de maio de 2014

Aldeia de Canaveses


A Aldeia de Canavezes.
por Ricardo Ramos
A freguesia de Canaveses encontra-se no extremo sul do concelho de Valpaços, fazendo fronteira com o concelho de Murça.

Tem como anexas, as aldeias de Cadouço e Émeres. É uma freguesia de povoamento remoto. Em seu redor, abundam vestígios castrejos nas zonas mais altas, tal como a apelidada "Cerca dos Mouros", já aqui referida neste blog.





Canaveses ou Canavezes, sempre foi uma aldeia ligada à agricultura. As pessoas viviam para trabalhar. Sabe-se que até meados do século XX, o povo, de classe social mais pobre, tinha poucas terras ou "prédios", como são designados também. Trabalhavam maioritariamente para classes sociais mais ricas. No caso particular de Canavezes, a casa "Lage" era a casa com mais poder, económico, social e de bens da aldeia, assim como o clero, neste caso o pároco ou padre, também tinha grande influencia nas pessoas, que por sua vez sempre foram muito ligadas à religião católica. Sendo que os padres e todas as entidades ligadas à igreja, sempre foram imensamente respeitadas pelas pessoas da região.


A Aldeia

A aldeia de Canavezes já remonta desde o século XIII, altura essa em que pertencia ao reitor de S.Pedro e Vales, província de Orelhão. Viria a pertencer a Chaves mais tarde, e só em 1853 faria parte oficialmente do concelho de Valpaços.
Desconfia-se que Canavezes tenha começado por ser uma aldeia muito pequena, sendo que o cemitério já teria sido num outro local, diferente do actual. Era um cemitério com pouca dimensão, o que remete a que tivesse havido poucas pessoas a habitar a aldeia propriamente dita. Só mais tarde por volta do ano de 1900 (data em dúvida), houve a necessidade de fazer um cemitério maior. Pensa-se que as pessoas se instalariam naquela zona, pelo facto de esta ser atraída pelos campos de boa colheita. As suas "olgas" férteis, estendem-se ao longo da aldeia, acompanhadas pelo rio, que atravessa a mesma de uma ponta à outra.
Com paisagens permanentes, e espectacularmente belas, fazem desta aldeia um pedaço do Reino Maravilhoso de Miguel Torga. Um reino esquecido num cantinho deste Portugal, um pedaço à parte, que só quem lá viveu, entende o que as palavras não conseguem transmitir.


Religião
O padre tinha direito às suas próprias terras, cujo rendimento era para seu consumo, assim como lhe era oferecida uma casa onde podia ficar instalado. A antiga casa do padre, além de casa de habitação do mesmo, já tinha sido utilizada como escola. As terras que pertencem ao padre, ainda hoje existem, sendo administradas pelos comissários da igreja. A casa do pároco foi remodelada recentemente, tendo sido convertida recentemente em sala de câmara ardente para possíveis defuntos.
Canavezes ainda hoje continua uma aldeia, bastante ligada à religião. A missa, ainda é celebrada todos os Domingos do ano. Existem uma festa em honra de Santa Barbara, que é celebrada no Verão, que geralmente, reúne muitos filhos da terra, sendo que a maior parte são emigrantes .


O trabalho

As pessoas trabalhavam de "sol a sol", os filhos estudavam apenas e só até ao 4º ano, ou 4ªclasse, como era assim dito na altura. Depois disso o seu destino era ajudar os pais na agricultura e na criação de gado. As pessoas, jamais se queixavam do trabalho, desde as vindimas, à apanha da azeitona e às segadas de verão, eram feitas sempre com muito suor, sempre regadas de vinho, o nectar dos deuses.
O azeite e o vinho são o ex libris da região, sendo que ainda hoje é comercializado e sempre com muita fama de bom produto. A alimentação era maioritariamente à base de batatas e grelos, e por vezes fumeiro característico da região, alheiras, linguiça e salpicão. As carnes eram conservadas nas designadas "salgadeiras", que se encontravam sempre em locais mais frescos da casa, geralmente, em caves. Mais tarde as salgadeiras foram substituídas pelos, frigoríficos e arcas frigoríficas.

O gado
A criação de gado, sempre esteve também muito presente nos costumes da aldeia, tanto gado caprino, como ovino e bovino.
Crê-se que no inicio os pastores de bovinos, criavam pequenas quantidades de cabeças de gado e todas elas se destinavam para a venda em feiras. Os bovinos, ainda em idade jovem, designados por vitelos. Feiras que merecem ser referenciadas como a feira de Carrazedo Montenegro, que era a mais perto, geograficamente da aldeia. Só mais tarde, já depois do 25 de Abril, os pastores começaram a criar gado bovino em maior quantidade, igualmente para venda, mas também para consumo próprio. O gado caprino sempre esteve em menor quantidade, conhecendo-se mais recentemente, nunca mais que um rebanho. Já o gado ovino, sempre houve em bastante abundância, conhecendo-se ainda nos anos 90, nunca menos de quatro rebanhos de gado. Actualmente só já existem dois rebanhos de gado.
Antigo Moinho, desactivado.

Para proceder à lavragem das terras, eram usados animais, geralmente burros, machos, mulas ou bois, nunca ou quase, nunca eram usados cavalos. Era graças a estes animais que o trabalho era feito, muitas vezes trabalhavam em par, chamando-se "junta". Eram ensinados desde jovens a obedecer, sendo necessário"amanssá-los" e também muitas vezes castrá-los.
Os burros eram os animais mais requisitados, por serem animais dóceis e mais fáceis de domesticar e ensinar, mas tinham menos força que os machos e as juntas de bois. Só mais tarde, já na época dos anos 90 do século passado, é que começaram a aparecer os tractores agrícolas, que vieram substituir estes animais, como animas de trabalho. Enquanto nos anos 60, quase todas as casas tinham uma junta, hoje já quase não existem, vêm-se apenas esporadicamente, pessoas mais idosas que fazem questão de ainda os preservar.

Pessoas
As pessoas de Canaveses, assim como as das aldeias vizinhas, são pessoas simples e acolhedoras, com as mãos cheias de cicatrizes e calos, que o trabalho jamais perdoou um único dia dos seus tenros anos. São pessoas, que viram partir os seus filhos, à procura de uma vida melhor, filhos esses que souberam desde cedo o quanto era difícil a vida na aldeia. Regressam uma ou duas vezes por ano, com grandes sorrisos estampados no rosto, cheios de alegria por voltar à terra que os viu nascer, e vão embora sempre com as lágrimas nos olhos, com um sentimento que soube a pouco, "para o ano, voltarei se Deus quiser".
Os pais desde cedo fizeram questão de passar a melhor educação para os seus filhos, gente de brandos costumes, sempre com a porta "escancarada" para quem quiser entrar.
Canaveses é um cantinho de Trás-os-montes, um cantinho feliz rodeado de montes, com terras e pedras que contam histórias.
Canavezes é uma lareira acesa durante o frio do inverno, uma azeitona que cai sobre o tolde, é uma uva, ansiosa por ser vinho. Canavezes, faz do sol o seu relógio, é o suor que encharca as camisas dos homens, e os cestos levados à cabeça das mulheres, são as crianças que brinca junto ao rio nas tardes de calor de Domingo. Canavezes é o cantinho onde vamos querer falecer, mas dizer:  aqui já fui feliz.

Trigo que nasce da terra
No fim de muita canseira
Como um filho é tratado
E se o trigo é um filho
Da terra que o fez medrar
Não pode mandar na terra
Quem a terra não amar.

Texto: Ricardo Ramos
NOTA: fotos presentes neste texto, foram retiradas aleatoriamente da internet, caso o autor das mesmas, pretenda que as retire, avise via e.mail. 




1 comentário:

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